terça-feira, 17 de setembro de 2013

O Olho do Furacão

A calmaria impressionava. Preso dentro do furacão, eu vivia o sonho de todos os caçadores de tempestades. A possibilidade real de haver destruição e tragédia a curta distância parecia inverosímil.

O Olho do Furacão. O último reduto da paz, do paraíso. Terreno inviolável, onde só chegamos nos sonhos, os mais puros, sonhos de criança, sonhos com futuro, sonhos de futuro, sonhos sonhados, sonhos vividos.

Há gente que me faz lembrar o olho do furacão. Passam e sente-se o que poderia ser. Sente-se quais as possibilidades infinitas, se penetrarmos na couraça de ar em movimento acelerado. Ar. A mais inofensiva das barreiras. Não se vê. Não se teme. Não é irónico que seja o escolhido para servir de vedação para o paraíso? Tudo ali tão perto...

No furacão das pessoas, a barreira é mais perniciosa. A velocidade do vento é menor, só se sentem uma rajadas de quando em vez. Tempestades? Imprevisíveis. Talvez por isso os caçadores de furacões meteorológicos tenham mais notoriedade do que os caçadores de furacões humanos. Quando nada se vê, como nos podemos defender? Quando nada se sabe, como saber se devemos arriscar e procurar o olho do furacão? Sempre nos sonhos, claro. Os furacões são todos iguais, e fazem birra. Só aceitam ser penetrados nos sonhos. Uma vez conheci alguém que o fez de verdade. Penetrou um furacão humano e viveu para contar a história. Estava tão feliz, que desapareceu. Foi consumido pela inveja dos que o rodeavam. Ele chegou a dizer-me que, outrora, ninguém tinha medo de penetrar os furacões humanos. Até que um dia apareceu um cobarde. E o medo alastrou-se que nem uma pandemia mortal.


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