terça-feira, 6 de outubro de 2009

A Histeria. Rabiscos.

O século XXI ficará para a história como o mais histérico. Isso significa que confio no poder de regeneração da raça humana, ou melhor, que acredito piamente na impossibilidade das coisas piorarem, desafiando o engenheiro aeronauta Murphy.


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Idiotas.

A comunicação é um dom e uma maldição. Para a perpetuação da espécie é fundamental fazer passar aos outros mensagens importantes: "dói", "dói muito", "estou a morrer", "estou feliz", "quero acasalar", entre outras.

Todavia, quando a comunicação não funciona, seja por problemas de emissão, recepção, ou ambos, entra-se no perigoso mundo das más interpretações, do exagero, da memória selectiva.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Meaningless. Desabafo.

Nunca paraste para pensar no que fizeste à tua vida? Nas oportunidades que tiveste e atiraste pela janela? Claro que sim. Quem não o faz? Confirmas a minha ideia preliminar. Somos todos uns idiotas, esperando eu que não estejas no lote dos que associam idiota a ideia. Tornar-te-ias um idiota ao quadrado.

Estar longe de casa é duro, tão duro que sobreviver à experiência deveria ter como prémio máximo um lugar ao lado do Pai (?). (Pois é, resultados da minha mudança de convicção religiosa. A partir de agora considero-me agnóstico, não ateu.)

Pânico.

Fobia social.


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Outonando.

Equinócio. Igualdade. Metades. Sol. Árvores de folha caduca. Eis o Outono.

A época dos suicídios aproxima-se. Os céus tornar-se-ão nublados, convidando fatalmente as almas atormentadas a abeirarem-se de precipícios ou de frascos de medicamentos. Almas que anseiam pela libertação do jugo corpóreo, pela ascenção divina.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Humor. Pequeno conto, 2ª parte.

Líquido? Psicológico? Patológico? Latino? Anglo-saxónico?

Eis como cinco letras organizadas segundos ocultos desígnios carregam tão variados significados, desde os maus humores que, presumia-se, provocariam a peste, ao mau humor que hoje trago, não na forma líquida.

Dizem os sábios que uma boa gargalhada cura tudo. A propósito disso, deixo ficar uma frase de Bill Cosby: "Through humor, you can soften some of the worst blows that life delivers. And once you find laughter, no matter how painful your situation might be, you can survive it.". Sendo assim, porque não mandar batalhões de palhaços para palcos de guerra, fome, SIDA, miséria...?Sem dúvida um sorriso curará a ferida causada por uma bala perdida.

O meu riso preferido é o choro. Imbecil, o choro não é um tipo de riso. Como ia dizendo, o choro é o meu riso preferido. E insistes... Gosto de analisar esses assuntos do ponto de vista afectivo. Nem do ponto de vista lateral o choro é um riso. E, de facto, não há nada mais bonito do que ver alguém a chorar de alegria, seja um atleta olímpico que contornou barreiras intransponíveis para vencer uma medalha, seja um casal que, maravilhado pela oportunidade divina de gozar a companhia um do outro, chora na primeira vez que faz amor.

Quando imagino o Diabo, Belzebu, Satanás, Lucífer ele está sempre a rir-se. Associarei eu o riso à maldade intrínseca? E quando as pessoas (sor)riem genuinamente por motivos felizes? Falsas? Será que Deus sorri? Imagino-o sempre triste, sereno. Simpatizo mais facilmente com pessoas assim, com uma pequena aura de tristeza, sei lá, têm algo de puro nos olhos, nos gestos, na inocência. O riso é feio, faz-me ficar desconfiado. E explicar o porquê do choro ser um riso, não? Se calhar não é mesmo... o choro é genuíno.

Sentada ao piano, vem-lhe à cabeça o virtuoso polaco. Concerto para piano número dois em F menor. Os dedos deslizam, dotados de vontade própria, determinados a amainar a tempestade pelo poder da música. Eis que se instala o silêncio lá fora. Aqueles juntaram-se à tempestade e escutam, tentando simultanamente saborear. O mais velho d'aqueles, experiente, nota um travo a baunilha, talvez com um toque de frutos silvestres colhidos na véspera. Não se contêm com o prazer e explodem. Ela ouve tudo, enojada. Homens.




segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Idealista. Pequeno conto, 1ª parte.

Idealismo.


nome masculino
1.atitude prática ou teórica segundo a qual o ideal tem primazia sobre o real
2.crença na possibilidade da concretização de ideais
3.atitude que consiste em subordinar actos e pensamentos a um ideal moral, intelectual ou estético
4.defesa de ideais ou princípios elevados
5.FILOSOFIA doutrina que reduz o ser ao pensamento, as coisas ao espírito (o mundo dito exterior não tem outra realidade além das ideias ou representações que dele formamos) e que se opõe ao realismo e ao materialismo;
idealismo estético concepção segundo a qual a função da arte não é imitar o real, mas criar um mundo ideal
(Do fr. idéalisme, «id.») - in infopedia.pt.

Ter ideais a partir de certa idade é visto como sinal de imaturidade, de ausência total de contacto carnal com a crua realidade. Afinal, o que interessa é ter dinheiro, muito dinheiro, guardando quaisquer comiserações para aqueles minutos dos telejornais onde são exibidas imagens daqueles "pretinhos" pobrezinhos do longínquo país chamado África. Ter ideais é idiota e próprio da irreverência juvenil. Pff, coitados, acreditam num mundo melhor, no fim da fome, na justiça social, na paz e no amor... pff, quando crescerem é que é!
Começo a pensar que o comum mortal receia o idealista. Não consegue lidar com a dura realidade de que há quem acredite. Temem o revolucionário, o pequeno Che, o comunista papão. No fundo, amargas pessoas são por já não serem capazes, por já terem perdido a capacidade de vislumbrar encanto e beleza, algo só conseguido pelos mortais com olhos de acreditar.
Copo meio cheio. Copo meio vazio.
Trovejava. O relógio de cuco da sala de estar marcava 11:53 naquela insólita noite de verão, algures no Pacífico Sul. A tempestade não se encontrava sozinha lá fora. Eles, aqueles, faziam-lhe companhia na escuridão profunda rasgada pelos brancos fios de cabelo de Deus. A questão que ela se colocava era se pretendiam entrar. Todos sabem que nenhuma porta os detém, aqueles são muito poderosos, tão poderosos que as portas são concebidas para cederem ao mínimo bafo, com vista a não os enfurecer. A manhã tinha sido soalheira, ela tinha andado pela praia, pensando na tórrida noite anterior, porventura tão tórrida dentro como fora de casa. Estava cansada, as pernas bambas: tinha dormido pouco, ele queria sempre mais. Na sala de estar, com a mente dividida entre o enriquecedor passeio e o pressentimento quase visível de aqueles excitados e ansiosos por entrar, ela resolveu sentar-se ao piano. (continua)