domingo, 30 de junho de 2013

Na crista da onda

Ontem foi uma boa noite, ou noite boa, melhor escrevendo. Não se pode pedir muito mais do que boa companhia aos pés do mar, cujos murmúrios eram a banda sonora doce, lenta, suave, formando e embalando os sonhos por madrasta sorte condenados ao naufrágio num mundo sem contemplações.

Cerro os olhos. Vejo com mais clareza. O negrume é interrompido. Luz sim. Luz não. Luz sim. Malmequer, bem-me-quer. A tormenta só se faz sentir no interior. Penso no vazio, não no longo debate sobre o significado do nada, passatempo de filósofos, pois tal não sou, mas na ausência de alguém que desconheço. Acendo a candeia, avanço pela chuva aos tropeções. Bombordo, estibordo. Oscilante. Não adianta, não chego ao vazio. Ainda não é a altura certa.

Sociais. Seres sociais, é como nos definem. Não deixo de ficar maravilhado com o efeito que o toque tem nas pessoas, e tão fácil é perceber se a pessoa está habituada ao toque. A criança privada de carinho e de braços aconchegantes ilumina um anfiteatro quando finalmente recebe afeto, os olhos brilham, produzem luz própria que é derramada pelos corredores. Os adultos avessos ao toque, indefesos, diminuem de tamanho quando confrontados, o frágil ser que dentro habita chora de alegria, as respostas comuns deixam de fazer sentido. A fachada imobiliza-se, chegam sinais contraditórios. Quieto. Afasta-te. Corresponde. Reage. Sorri. O forte foi derrubado. O Rei morreu. Viva o Rei!







sexta-feira, 21 de junho de 2013

The Absent Life

Foi há quase 3 anos o último post (peço desculpa aos puristas, mas não há nenhuma tradução de "post" que me agrade).

Promessa por cumprir, a do ReBirth.

Hoje dei-me ao trabalho de ler os devaneios de 2009 e 2010, tendo vindo à memória sentimentos que repousavam nas profundezas da mente. Devido à aura de negatividade que fabriquei em torno da minha persona nos últimos anos, é estranho ler o que sentia o ego daquela altura. É estranho ler o que sentia durante a travessia do deserto (terminada?), a ironia crua, o tom lúgubre, as referências ao divino, a escrita negra.

Isso faz-me pensar no significado de Identidade. Pode-se dizer, sem margem para dúvidas, que a mesma pessoa escreveu em 2009 e está neste momento a fazer renascer o blog das cinzas?

Hipótese pragmática: sim, a não ser que tenha sido pouco cuidadoso na escolha da palavra-passe. Os hackers estão à espreita.

Hipótese fantástica: as alterações sofridas pela psique de um ser ao longo do tempo são suficientes para que possamos falar na existência de pessoas diferentes, identidades distintas, dois indivíduos, de facto, amaldiçoados na partilha forçada do mesmo vaso corpóreo ao longo de um tempo t, ilusão das ilusões, truque houdinesco, há milénios impedindo que os seres sejam livres (liberdaaaaaaaaaaaaaaaaade!), presos que estão na teia da carne* antes propriedade de outrem.

O que mudou nestes três anos? Inúmeras crises? Erros seguidos de erros? Caminho para a maturidade? Sonhos em decomposição? Prioridades trocadas?

A maior alteração terá sido o meio utilizado como escape. O cinema preenche o que antes partilhava com a leitura. Ebert tornou-se um ídolo tal qual Garcia Marquez. O mundo continua a girar, se bem que mais devagar. A Humanidade continua a ser um mistério. O sentimento de ausência continua forte. A impossibilidade de consciência na ausência faz doer. O tornado Confusão acalmou, poupando vidas, destruindo corações.

Em frente, que atrás vem gente.

* Não acredito na dualidade corpo-alma. Ao contrário da persona de 2009, sou um ateu convicto.