sábado, 6 de julho de 2013

Gostos não se discutem

Tunnel vision. Termo inglês para descrever a perda de visão periférica, com preservação da visão central.

Não, não vou escrever sobre nenhuma patologia. Se bem que...

Quando se gosta de alguém, mas gostar a sério, nada de ficanços e curtes, a pobre vítima sofre sintomas que podem ser comparados à visão de túnel, num sentido bem amplo. Raciocínio emperrado, cara de estúpido, perda de controlo da função visual, com os olhos a reivindicarem autonomia, procurando de forma incessante o objeto de afeto. Ritmo cardíaco acelerado, falta de ar, sensação de ter um buraco de meio metro no tronco.

Não que eu reclame para mim o título de especialista, seria deveras cómico que alguém tão inseguro tal fizesse. Porém, milhares de filmes vistos têm de servir para alguma coisa, sem esquecer recentes experiências.

Serão as culturas que deixam o amor romântico para segundo plano mais evoluídas? A escolha criteriosa de um parceiro, com base na possibilidade de garantir um futuro estável à futura família, tem mais que ver com o uso da razão, que a espécie humana tanto acena como símbolo máximo de superioridade terrena; a escolha baseada em ritmos cardíacos acelerados, falta de ar, visão de túnel, não poderia ser mais irracional e absurda. Porque é que evolução nos conduziu neste sentido? Porquê evoluir para sentir, para amar, quando o futuro da espécie poderia ser facilmente definido pela razão, pela escolha sensata?

Pego no meu exemplar d'O Gene Egoísta. A conclusão parece óbvia: as unidades reprodutoras que fizessem batota e utilizassem subterfúgios que criassem a necessidade estar com outra unidade seriam mais bem sucedidas do que as que nada sentissem, e só fossem compelidas para a carne por mandato. Carneavam mais vezes, maior prole, maior sucesso. Daí que mesmo nas culturas mais evoluídas, digo eu, haja sempre transgressores. Crianças terríveis!

Desejava estar imune. Quando somos possuídos por esta vontade parva, ficamos vulneráveis. Quando não parece haver hipóteses de vencer, depressivos. Venderia a alma ao Diabo pela imunidade, acreditasse eu nele. Mentes a ti próprio, e bem sabes. Venderias a alma pela realização do desejo. Venderias a alma para que o sentimento de vazio dentro de ti desaparecesse, admite! Cobarde, não percebes que desejar a morte do desejo é pior que desejar a própria morte. É o amor que nos torna humanos, não a razão. (Em itálico estão as palavras do meu alter ego, um ser muito mais corajoso do que eu, sem dúvida disposto a aventuras, não fosse ele prisioneiro no mais secreto abrigo da minha mente).










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