sábado, 3 de agosto de 2013

Gently weeping

Rápido. Mais rápido. Tento acelerar, respiração ofegante, coração aos pulos. Sinto o bafo da sombra. Atrás de mim o precipício crescia, ouviam-se gritos. o desespero de mais um momento apagado. Tapo os ouvidos, baixo a cabeça e continuo. Não posso parar, não enquanto a sombra estiver no meu encalço.

Afasto-me. Não reconheço o local. O meu olhar é atraído para um casal que troca carícias junto de um fio de água. Inebriados, tratam o corpo um do outro com divino respeito. O universo está parado. Para os amantes, o centro do mundo é aqui. Não me vêem, como poderiam fazê-lo? Nem eu me vejo. Ninguém me vê.

Enquanto corro passo por muitos aceitantes. São aqueles que não receiam a sombra e o que ela traz. Como os invejo! Parecem felizes, a sombra não impede que continuem a viver. Abrem os braços e aceitam-na, unem-se-lhe em uníssono:

I look at the world and I notice it's turning


O cansaço é matreiro. Nunca bate à porta. Entra pelas frinchas como se do Sol se tratasse. É o braço-direito da sombra - o esquerdo é o destino. Resisto-lhe, pois viver com aquilo que a sombra traz é inimaginável. Insuportável. Sinto as garras a penetrarem na pele. Esgar de dor. Sou impotente. Quem dera que tudo termine, que o vazio reine, que o silêncio impere pela eternidade.

Suplico-lhe que me deixe, que abra uma exceção. Viver perturbado é desumano, e eu já aprendi:

With every mistake we must surely be learning

A sombra responde com voz de barítono: não podes fugir do passado.







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